terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

HIGH TECH - ACID HOUSE


             O Acid House é um estilo da música eletrônica sub-vertente da House music, que teve seus elementos misturados com um som pesado e graves fundos da caixa-de-ritmos Roland TR-808, e teve sua primeira aparição na década de 1980, no trabalho chamado Acid Traxx", dos produtores norte-americanos da cidade de Chicago DJ Pierre, Adonis, Farley Jackmaster Funk e Phuture (esse último levou o nome da música que virou clássico). O termo "acid" deriva da utilização do sintetizador de baixo Roland TB-303 (baixo transistorizado) que possui efeitos de filtros que reproduzem um "som ácido".

             Esse estilo era exclusivamente um fenômeno de Chicago, mas em 1987 virou febre no Reino Unido e na Europa Continental, sendo muito tocado por Djs. O smiley (um sorriso dentro de uma bola amarela) virou emblema dos adeptos do acid house, sendo estampado em camisas. Em 1989, devido principalmente ao álbum Technique do grupo New Order e seu clube noturno, The Haçienda, o estilo teve seu auge, chegando ao mainstream mundial.

             No começo da década de 1990 o estilo perdeu a força, mas deixou uma grande influência na Cultura popular, principalmente na Dance Music, considerando o grande número de faixas de música eletrônica que fazem referência a acid house com o uso de seus sons, incluindo trance, Goa Trance, psytrance, breakbeat, big beat, techno, trip-hop.

             “Enquanto em maio último a elite intelectual comemorava os 30 anos das manifestações estudantis de 68, agora é a vez de a mídia jovem, a imprensa musical e milhões de jovens em todo o mundo evocarem os dez anos do nascimento da acid house para tentar entender e operar as mudanças ocorridas desde o segundo verão do amor, em 1988.

            Aparentemente apolítica, a cultura acid house acionou a ideologia hippie como ideal, declarando o hedonismo seu principal rito.

            Tratava-se de uma pequena sociedade de amigos, conectada não por discursos ou slogans, mas por intenções, emoções e, sobretudo, sensações - "One nation under a groove" (uma nação sob um ritmo). Foi a partir dali que os jovens voltaram, como nos anos 60, a ter poder de fogo (e de consumo) dentro da sociedade.

            "Quando o ecstasy foi combinado pela primeira vez com a house music, a reação resultante disso impulsionou o mais vibrante e diversificado movimento jovem que o Reino Unido jamais viu."

            Quem diz isso é o jornalista e escritor Matthew Collin, na bíblia "Altered State", com o subtítulo "A História da Cultura do Ecstasy e o Acid House".

            De fato, o gênero serviu como detonador do terremoto jovem que assolou os anos 90, tendo a Inglaterra como epicentro. Assim, o estopim foi a explosiva combinação da pulsante música das pistas de dança junto ao amoroso psicodelismo do emergente ecstasy.

            A pílula serviu como alavanca para toda uma geração espantar o fantasma do thatcherismo e tudo o que o acompanhava - desemprego; insegurança, ausência de perspectivas sociais; austeridade autoritarista e individualismo.

            Em princípio, apenas um bando de malucos de rostos sorridentes e faces coradas; braços levantados em direção à cabine de som, onde homens praticamente sem nome (os DJs) instalavam estranhos cultos que, depois, vimos se transformar em religião.

            Tentando reproduzir em Londres a atmosfera encontrada em Ibiza, o Klub Sch-oom, ou apenas Shoom, como depois passou para a história, foi um dos principais berços da cultura do ecstasy em Londres, de dezembro de 87 a abril de 88.

            "Shoom" seria a sensação provocada quando o ecstasy começa a "bater", segundo os criadores da noite, o DJ Danny Rampling e sua então noiva Jenni.

            Foi o casal quem, em janeiro de 88, adotou o logo do Smiley, importado dos hippies, que se tornou o símbolo de toda a cultura acid house.

            Musicalmente, a evolução desse cenário levou a desdobramentos dentro do segmento de música eletrônica nunca antes imaginados, junto à consolidação do conceito de cenário underground.

            Se o tecno é hoje o mais disseminado, subgêneros brotam a cada encontro de produtores e jornalistas à volta de algumas cervejas.

            Quanto à questão do ecstasy, claro que as coisas não seriam tão simples. O consumo do ecstasy é repleto de efeitos colaterais (causando a morte em alguns casos).

            Pode também causar dependência psíquica, uma espécie de patologia compulsiva para combater a vida real que não costuma ser assim tão positiva quanto uma noitada com os amigos sob luzes coloridas e música intensa.

            A depressão crônica é apenas outro dos paradoxos do ecstasy, bem como uma possível passagem para outras drogas: uma de suas características é a de "perder o efeito" quanto mais é consumido.

            Segundo a (pouca) literatura a respeito da droga, boa parte dos que tomam ecstasy procuram, sem sucesso, recuperar o "shoom" da fase inicial.

            Assim, é agora que começaremos a acompanhar o que será da geração química (chemical generation), como se convencionou chamar esse peculiar grupo da juventude dos anos 90.

            Para onde irão suas mentes e suas vidas na virada do milênio? Seus pais, governantes, a máfia da droga e, principalmente, a indústria do entretenimento esperam ansiosamente pelas respostas.”

  



“2018 marcou o 30º aniversário do nascimento de um dos maiores movimentos da música eletrônica como a conhecemos.

Há trinta anos, no verão, foi criada a acid house: um estilo de música eletrônica que influenciou praticamente todos os DJs no final dos anos 80 e início dos anos 90. Sem dúvida, foi um ponto de virada para a música eletrônica. Para celebrar a ocasião, decidimos olhar para trás e relembrar os artistas, faixas e selos que pavimentaram o caminho para esse incrível estilo musical. Mas vamos pelo começo: como o nome já sugere, o acid house é um subgênero da house music, um gênero que havia sido prevalente em clubes por alguns anos, com baluartes como Frankie Knuckles, Ron Hardy e Lil Louis, todos eles DJs residentes em vários clubes de Chicago. Mas isso é outra história.

A verdade é que, com a decadência da disco music e do boom da house music – com colaboradores em estações de rádio, gravadoras e fabricantes de discos empurrando o estilo pra frente – um grupo de produtores experimentando estes gêneros começaram a incorporar o sintetizador Roland TB-303 ao seu trabalho. A partir de então, o estilo nunca deixou de se expandir, espalhando-se por diversos mercados internacionais como a Europa e se tornando um fenômeno na Grã-Bretanha. No final, foi a desculpa perfeita que levou toda uma geração a uma revolução juvenil.


O SEGUNDO VERÃO DO AMOR

O clube londrino Shoom abriu em novembro de 1987. Sob a direção de Danny Rampling e sua esposa, foi um dos primeiros clubes a introduzir acid house na Grã-Bretanha e transformou centenas de músicos talentosos no novo estilo musical. Era extremamente exclusivo, tinha uma fumaça espessa e, claro, acid house, criando uma atmosfera sonhadora. Este período começou o que alguns ainda chamam de ‘Segundo Verão do Amor’ – um movimento que leva o nome do famoso Verão do Amor nos EUA nos anos 1970s – creditado com uma redução do vandalismo no futebol: em vez de lutas, os fãs de futebol iam aos clubes e juntavam-se aos outros participantes sob efeito de algumas drogas.


O Shoom foi o primeiro clube a introduzir acid house por toda a região e, para muitos, era um estilo de vida. Localizado em uma academia chamada Fitness Center, cabendo 300 pessoas, onde havia paredes de espelhos, o clube atraía uma mistura muito ampla de frequentadores, como Boy George e Paul Rutherford, de Frankie Goes To Hollywood. “Os clubes nos anos 80 poderiam ser difíceis na Inglaterra, cheios de idiotas que gostavam de beber e violência”, disse Pete Heller ao The Guardian. Heller tocou no clube Rampling quando reabriu no Busby. “Mas no Shoom não havia nada disso. Eles insistiram em uma vibração positiva, mente-aberta e amigável. Se você não tivesse isso, não entraria. Era um grande compromisso. Não era um lugar onde você pudesse se sentar confortavelmente num canto. O Shoom era uma caixa de suor”.


EXPANSÃO
Mais ou menos nesse tempo, no ano seguinte, o clube Trip abriu em junho, liderado pelo DJ Nicky Holloway, que tinha viajado para Ibiza em 1987 com Danny Rampling, Johnny Walker e Paul Oakenfold para celebrar o aniversário do Oakenfold. O quarteto voltou para casa inspirado no incrível som das Ilhas Baleares. O Trip ficava no West End de Londres e era voltado diretamente para a cena acid house. Era conhecido por sua intensidade e ficava aberto até às 3 da manhã, quando os clientes iam até as ruas gritando e muitas vezes atraindo a polícia.


A má reputação que esse tipo de ocorrência criou com as rigorosas leis anti-clubes do Reino Unido começou a tornar cada vez mais difícil oferecer eventos na atmosfera convencional do clube. Por causa disso, e porque curtir clubs madrugada adentro foi considerado ilegal em Londres durante a década de 1980, os grupos de frequentadores de clubes começaram a se encontrar dentro de armazéns e espaços industriais em segredo para evitar invasões policiais, marcando os primeiros desenvolvimentos da rave. Dois grupos conhecidos neste momento foram o Sunrise, que realizou grandes eventos ao ar livre, e Revolution in Progress (RIP), conhecido pela atmosfera sombria e música hard de seus eventos.


O grupo Sunrise produziu várias raves de acid na Grã-Bretanha que atraíram muita atenção da imprensa. Em agosto de 1988, eles jogaram o que é considerada a maior rave de acid de todos os tempos, perto de Reigate, Surrey. O evento foi realizado em campos adjacentes a uma escola e funcionou das 22 horas de sábado até a noite de domingo. Aproximadamente 20.000 pessoas compareceram, e as fileiras de carros ultrapassaram 5 quilômetros. Recebeu uma cobertura significativa da imprensa. A partir de então, o acid house andava com seus próprios pés e não dependia de ninguém para ser considerada um gênero.


ORIGENS
Os primeiros exemplos registrados de acid house são assunto de debate. É geralmente considerado que o ‘Acid Trax’ do Phuture é o exemplo mais antigo do gênero, com seu som tipicamente ácido dado pelo TB-303. DJ Pierre, membro do Phuture, diz que a música pode ter sido gravada já em 1985, mas não foi lançada até 1987. Outros apontam ‘I’ve Lost Control’, de Sleezy D, lançada em vinil em 1986, era a origem, mas é impossível saber qual track foi criada primeiro ou qual delas foi precursora do gênero. A única certeza é que ‘I’ve Lost Control’ foi a primeira track lançada em vinil e que ambas as faixas foram importantes para o florescimento do gênero



“A coisa toda não foi apenas com base em drogas, isso é um equívoco”, disse Danny Rampling para o The Guardian, em novembro de 2017. ‘Sim, havia uma música nova e revolucionária, acid house, e com isso veio um estimulante, ecstasy. Eles meio que andaram de mãos dadas e foi uma experiência muito positiva e profunda para muitas pessoas. Mas para mim, principalmente, era sobre a música”, disse ele, em defesa de um dos principais períodos da cena da música eletrônica e sua forte conexão com a sociedade britânica.


Dave Haslam, DJ no The Hacienda e autor com experiência em primeira mão do fenômeno, lembra aqueles tempos como uma verdadeira explosão social que ainda precisava estabelecer algumas regras básicas. “Ninguém sabia como se vestir. As pessoas se perguntavam: ‘Devo colocar uma camisa comum ou de botão?’ No início de 1988, ainda havia pessoas vindo para o The Hacienda com ternos e, de repente, eram jeans e camisetas”.


Em Londres, alguns DJs – como Maurice e Noel Watson na Delirium, Colin Faver e Eddie Evil Richards no Camden Palace, Jay Strongman e Mark Moore no Heaven e Dave Dorrell na RAW – foram os primeiros a tocar house music, mas em 1988 as coisas realmente explodiram. Uma nova geração de clubes como o Shoom, do Danny Rampling, Trip, do Nicky Holloway, e Espectro, de Paul Oakenfold, foram os principais locais da cena na capital, juntamente com o Hacienda em Manchester e o Jive Turkey em Sheffield. ‘Era tão novo e tão diferente de qualquer coisa que você tinha experimentado’, explicou Paul Roberts da K-Klass, que foi descrito como sendo dividido entre seu desejo de dizer ao mundo inteiro sobre isso e a necessidade de mantê-lo secreto e especial. Mas essa não é uma das batalhas internas que alguém tem que lutar quando se pertence a um movimento underground?


Desta vez, não deu para manter em segredo. A velocidade com que a acid house explodiu no verão de 1988 pegou todos de surpresa. Em uma era pré-Internet, o fenômeno se espalhou de boca em boca e a vontade dos frequentadores de clubes em compartilhar suas experiências fez com que os números crescessem semana após semana. A revolução foi tão grande que saiu dos clubes. Aquelas pessoas que haviam sido tocadas pelo Segundo Verão do Amor se reconheceram quando passaram pela rua. Os sinais eram suas roupas, estilos de cabelo e seu sorriso distraído quando eles olhavam pela janela de ônibus, esperando o fim de semana para ir dançar em um daqueles clubes. Grupos de amigos começaram a ser divididos entre aqueles que tiveram sua revelação em um dos clubes e aqueles que ainda não tinham sido convertidos – embora, mais cedo ou mais tarde, eles tivessem. A partir daí, a acid house seguiu seu próprio caminho…

Erika Palomino

Colunista da Folha

Martin Vannoni & Hernán Pandelo
Essa matéria faz parte da nova edição impressa da Dj Mag Brasil

 https://www.terra.com.br/diversao/musica/aprenda-a-diferenciar-os-estilos-de-musica-eletronica,6e721c926ee95091bb93d827a905534b47wrapy4.html

https://pt.wikipedia.org/wiki/Acid_house

https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq03079825.htm

https://djmagbr.com/30-anos-de-acid-house/